 Natureza IrônicaRosas enfurecidas Uma a uma se desfazem Imperfeitas tornam a si Corpo violentado e sangrado Carne vegetal em cinzas espalhadas Na pira que não cessa, exumadas;
Logo após em noiva se transforma Em algoz, lúgubre, insensata Equilibra-se em falso casamento E rude as apanha num jardim Quase sem vida, murcha Fétida entre outras se destaca... |  Leite DerramadoSobre o olhar incrédulo e desatento
O leite ferveu, subiu e derramou...
E por quase dois segundos
O fogão não reclamou
É um sujo que se limpa com o pano
Desperdício de alimento, ou engano...
Fruto do organismo mecânico
Ou pensamento... |  Rosa de HiroshimaEstranhas pétalas cinza
De uma rosa estarrecida
Perfume suave como a morte
Esse tal perfume inseticida
Rosas estranhas que envergonham
Que caiu sobre Hiroshima;
Estranhas pétalas cor de rosa
De uma rosa assombrosa
Veio do céu o desespero
E o desejo homicida
Sobre esta rosa cor de rosa
Dolorosa de Hiroshima. |
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 Estação Rocha LeãoCom teto de telhas francesas
De marseille era a velha estação
Desde 1887, não se via tamanha beleza.
Os tempos modernos destruíram a velha estação
O coração da velha locomotiva parou
Não bate mais nos trilhos de Rocha Leão... |  Engenheiro Manoel FeioMauá foi de Barão, Manoel de itaquá!
Na descoberta de Anchieta um anseio
Que ele jamais poderia imaginar
Ter um bairro da cidade com o nome feio.
Nos dias de hoje presto uma homenagem
A esta gente humilde que vive em nosso meio
Aos viajantes que por aqui passaram
Jamais irá esquecer-se de Manoel feio... |  Obra da TeosofiaCoração é valente nas batidas do peito
Estação de folhas secas carregadas pelo vento
Coração é covarde amedrontado pelo medo
É inverno sem saudade céu nublado e cinzento.
Coração é lápide de mármore, histórias frias
Que pulsa dentro ao peito, nas batidas pela vida...
Estranho pergaminho, de palavras escondidas
Do engenheiro lá do céu, a mais pura obra prima... |
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 A Emboscada dos xamãsSou um andarilho no olho do sol,
seguindo as marchas das almas.
Vim comer as nádegas das águas,
no deserto incerto deixei minhas pegadas.
Sigo pelo caminho inverso,
para a emboscada dos Xamãs;
As aves disputam a carne cansada,
dos meus flagelados calcanhares... |  Estrada Km 44Entre tantos descuidos fiz uma descoberta
Que a morte não soa tão ruim assim;
Quando a pior das mortes sempre é a solidão...
Eu, que acabo por vence-las; Que o digam as antigas mariposas
As vezes sinto saudades de me ver criança
De ver a face do sol, tão jovem quanto as minhas peripécias... |  O Verde que lhe faltaSe algum dia todas as cores se apagarem
Ainda terei um motivo
Para furtar o verde dos teus olhos
Emprestarei o verde ao mar,
O brilho ao sol,
O enigma aos mistérios
A malícia aos desejos...
Se algum dia vier a perder a direção
Tomarei emprestada a luz do teu olhar;
Como bússola me guiará pelo caminho a seguir
E se um dia por acaso encontrar o arco-íris
Lembrar-me-ei que o verde que lhe falta
Estará para sempre perdido no íntimo dos teus olhos... |
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 Minha sinaFácil é viver sem eu, difícil é viver sem elas...
Maldito Adão que emprestou as costelas;
Tenho minha sina, me contou a cigana
Castigo pra quem não sabe viver sozinho; e se engana;
Dentre o sopro da rotina, destas, três viraram breu
Uma quarta ainda resiste, graças a mim ou graças a Deus;
Ainda tenho uma boa lábia ou uma boa cama... |  Sínico pensarVeja como é profunda, a dor a cicatrizar
Meu amor sinta o meu pulso a pulsar
A fogueira que se transforma em cinza a se apagar;
O vitupério sínico transparente no meu pensar
Venha meu amor ainda é tempo de nos flagelar
Rasgar as vestes da nudez vulgar... |  Favela tão belaDizes amante donzela
Quando vens da favela
Tão bela e tão discriminada
De beleza assaltada
Joia feia na vitrine da cidade
Rara escola de futebol
De meninos sem vaidade
Como presos de uma cela
Realidade bruta da favela... |
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 A Morfina no meu sangueGarota você parece estar perdida
Em um beco, parece estar indecisa
Eu posso ouvir o teu cheiro, respirar teus anseios;
Garota você parece decidida
Eu estava passando, não pude evitá-la
Você pode correr por outra estrada
Escorrer em teu sangue a morfina
Encontraremos-nos lá na frente, estaremos envolvidas...
Versos do poema de: Christine Aldo |  Estação Rocha LeãoQue saudades da velha estação
Da locomotiva que trilhava a ferrovia
Patrimônio histórico que a muito não se via
Estação antiga de Rocha leão.
Quando ainda gatinhava à vontade de trilhar
Nasceu por mão de obra de escravos
Estrume de boi misturado com os barros
Em rio das ostras ela veio inaugurar... |  O Pé feio de GesimaraGesimara;
Virgem Maria dos céus!
Este que são pés teus
Não há quem veja
E que não perceba
E que não duvide
Ser obra de Deus.
Gesimara,
Meio que na farra
Quase me escondeu
Chinelo de dedo
De rosa vermelho
Que se escafedeu,
A que mal te pergunte
A alguém que curte
Estes pés teus... |
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 Singular coraçãoPoesia estúpida da minha vida
Sangue na minha veia escorrida
Assaltou-me de imaginações
Gotas de chuva no telhado
Última volta do ponteiro do relógio
Assim é a vida
De um singular coração
E quanto ao ar que respiro
Outras primaveras virão
Se for pra falar em flores... |  A Morte das brasasEu, porém, afoito comigo mesmo
Afronto meu colo sem dar calor
Não que não haja em mim a luz interior
Pois quem de mim se apossa, haja amor...
Sento a um pedaço de carvalho roliço
Fico a observar o fim de todas elas
Ardem-se febris, parecem não sentir
A proximidade da sua inexistência
Mas parecem felizes! |  A Tribo dos remanescentesDispersaram-se os corvos da imunda carnificina
Atiçaram os coiotes predadores, dentre o sangue das feridas;
Abutres disputavam os restos mutilados
Dos flagelos que tornastes tua tribo.
Vós, os remanescentes da grande tribulação
Sereis devorados em um só golpe... |
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 Um novo amorPara que chorar
Por alguém que não te quer
A solidão que torna os olhos daltônicos
O batom vermelho cor de carne suicida;
Àquele que te trocou
Por amores não correspondidos
Te abraçou como a primavera
E despediu-se como as folhas de outono... |  Enigma do amorObservando seu corpo eu me perdi quando me salta uma vontade louca de possuí-la. Você veio não sei bem de onde, só sei que me fez amar, tuas palavras são como correntes que me cerram em um labirinto de prazer. Admira-me como quer, sem que eu possa me defender, sou escravo das tuas insinuações, me devoras com voraz preenchimento... |  Ato mútuoQuanto a mim já não me possua
Pois a carne é insulto; em reles sofrer
Podeis seguir nesta estrada que é tua
Nesta minha labuta, tento espairecer;
Mas ao entrarmos nesta farsa juntos
Dei-te um pouco de mim, e tomei de você...
Mas espero que ao forjarmos este ato mútuo
Não nos separamos; não consigo viver sem você... |
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 Não existe por quêNão existem motivos, só um por quê
Um porque que você me deixou
Não existe um por que, só um motivo
Um motivo que você não contou;
Levastes contigo um pedaço de mim
Deixastes comigo uma lembrança de você
Roubastes do meu peito um coração partido
Metade é sua vida, metade é meu ser... |  Jeito de amarSorri por não saber à hora
De ficar, ou ir embora
Mulher incansável
Sem você, me faz tornar detestável.
Tens o poder de ludibriar
No teu colo me fazer sonhar
Porém eu confesso sou capaz de morrer
No teu jeito de amar, que jamais vou esquecer... |  As Aparências enganamMas que nada, minha outra face vai ser revelada
Esta manhã não vou acordar cedo, vou acordar eu mesmo;
Vou sentir na pele o sol que me esquece o pão de cada dia!
Deixei o cabelo crescer e fiquei sem emprego,
Cortei o cabelo e nada de emprego;
As aparências realmente enganam. Ou serão os políticos deste país? |
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 Crime da distraçãoAo tomar tardio juízo
Admirou-se da repugnância que o tomara,
Por segundos se vira lançado no precipício
Por sorte arrependeu-se;
E tornou onde estara,
O silêncio da voz que o caçoara
Trouxeram de volta os olhos, ao horizonte... |  Raras incertezasPeca a minha boca só de pensar,
nos teus lábios molhados,
o batom a ressecar
Um roxo da morte,
dança no útero da noite;
As violetas seminuas
Raras incertezas,
queimam o coração,
ainda vivem na brasa da solidão... |  Flor lilásÀs vezes eu me esqueço
Dos tempos que era mais moço
Um colhedor de pétalas
Nos outonos de março e agosto
Mas encontrei-te pelos campos da vida
Você quem diria minha flor lilás...
Tão rara como o amarelo vermelho
Dos sóis dos meses de setembro... |
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 Janaina meninaJanaina menina, pequena sereia...
Dona do sol teus passos na areia
Ensina-me o caminho me faz a certeza...
Este teu lindo sorriso, menina beleza.
Janaina, cabocla menina...
Dona do vento, da manhã vazia
Teus cabelos assanhados, tua pele macia...
Mãe natureza que mais fascina
Pequena cabocla, Janaina menina. |  Mania de ficar sozinhoEla se foi... Foram-se os dias
Uma vida que passou, soou o sino
O desatino, o meu amor...
Embora soubesse
Este meu destino
Mania de ficar sozinho
Foram quatro
Estes meus caminhos
De flor, de horror, de saudade... |  Sem manchasA sensatez do teu espírito jovem
Toma como logradouro o meu coração
A sensibilidade da tua alma
Empobrece meu orgulho
E acrescenta meu gostar
Por tudo isso
Meus olhos te procuram
E o brilho do teu rosto me acompanha;
Feito luz mercúrio
No infravermelho do meu coração... |
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 O Golpe do lagartoEstou à caça da solitária libélula
Encontramo-nos em meio às investidas do acaso
Inflamaram-se as glândulas multicores;
No deserto da vaidade animal
A fêmea armou-me uma emboscada;
Outros desperdiçaram suas flâmulas pecaminosas... |  Raras incertezasTraço um sorriso,
fino como o ouro,
porém envelhecido.
Descubro um tom,
avermelhado de amargura,
estonteante e rejuvenescido.
Vejo as pétalas caídas,
ouriçadas pelo tumulto
do outono ventríloquo... |  Trinta de julhoFernanda! Bem sei que não é para tanto
Que empilha teu corpo num canto
É possível sentir tua dor, teu desatino
Ao som estridente do violino
Como o frio que lhe rasga o tímpano;
Como ópera detentora de tua alma
Como letra corrupta, e nua que te vara... |
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 Não chore pelo outonoSe o vento mudar a direção
Atirando as folhas contra,
Um murmúrio esbravejado do céu
Irá detê-las, todas elas...
Lembre-se que um pensamento
Independe das estações,
Um amor pode nascer no verão
E morrer no outono,
Assim como as folhas não descansarão
Até que encontre repouso num vazio coração... |  A Lua veio nãoHoje a lua está minguante, delirante...
Posso vê-la tão errante, num instante!
Contemplando os amantes, alua fascinante.
Hoje a lua veio não, solidão...
Não posso vê-la do sótão, sem razão!
Não me deu explicação, talvez esteja...
Escondida no Japão, a lua veio não... |  Ontem a lua me fez sonharMas a lua me encanta me fascina; ludibria
Faz me sonhar acordado; mesmo de dia
Eu me despeço da solidão e da saudade; quem diria
À noite assaltou-me de um sonho tolo
E me fez acreditar que podia amar ou então morria... |
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 DesenganosNa melhor das intenções
Aparas-te em um sofrimento
Tosco como a saudade
E abrupto quanto há um sentimento;
Eis que rola um suave gemer
A boca que reclama o coração...
Partiu de alguém que não sofreu
Ao carregar no colo as tuas dores... |  DesilusãoHá tempos ouvi dizer
De estórias que... Por alguém morrer
Ou viver... Sem alguém, se perder...
O amor com saudade do ódio
O bem e o mal, por sinal
Juntos em um mesmo objetivo
No coração pulsar, furtar, sofrer...
Como ouvi dizer, há tempos...
O amar, o trair se enganar...
No olhar que cega este meu duvidar. |  Utopia da minha vaidadeTem dias que tenho vontade de correr na chuva
Tropeçar com as pernas do meu coração
Cair de peito em uma poça d’água;
Tem dias em que me sinto o lodo da lama
Vejo a vida escorrer por entre os dedos
À tarde de uma primavera ceifar meus pensamentos... |
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 Eu devia saberEu devia saber que terminaria assim
A barba grisalha, esdruxula, crescida
Eu é que deveria me acostumar comigo
Assim tão cheio de mim, de alma vazia
Preencho o meu quarto com tamanha solidão
Trancafiando enfim todo o pensamento
Tudo que restou de mim se resume em pôr do sol
Que todas as tardes caem do firmamento... |  Reerguer-se do ocultoSolene, a tua voz, soava em alarido mudo
Sobre o sol das incertezas, lacrimeja o moribundo.
Sobre a haste, a fincada carne, dissipada desfalece
Ao jorrar o sangue quente, que no seu ventre umedece.
Tosco é a saudade, que vareia os teus rumores
Promíscuo da maldade, repentino como as dores... |  Ilhas flutuantesAbaixo dos meus olhos vejo as ilhas flutuantes
Tal como presa cercada de incertezas
A espera de predadores famintos
Ilhas acorrentadas pelo sistema
Dominadas, sentadas e acomodadas
Enxergando a esperança com o binóculo da ignorância... |
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 A Vida é um poemaA vida é a saudade
Que aperta o peito
É alguém que te espera
Num abraço violento
A vida é poesia
Solidão que vicia
É o bater do coração
É o corte do umbilical
A vida é mesmo assim
Dia e noite, não e sim
A vida é uma proeza
Cercada de incerteza
A vida é prematura
É eterna enquanto dura... |  Estrada Km 44Ao longo do caminho, quantos mares que secaram
Poeiras que o vento nem sabia se levava, ou se trazia
Até nisto o coração é enganoso, o peso do tempo não perdoa
Carrega a mochila nas costas, mais cheias de pecado que fadiga... |  Pra nunca mais esquecer que foi minhUm sofrer tão singular e meu
Quando a música me visita
Não é o teu gênero, mas lembra você
A controvérsia da opinião
As coisas não têm que ser do meu jeito
Onde anda você?
Pra discordar, pra ignorar, pra amar... |
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 Se eu pudesse existirO inverno colocou um cinza na tua janela
Suspirou gelado ao redor da tua cama
Você quase perdeu o controle da situação
O vento empurrou a porta pela manhã
Com seus pigmentos invisíveis
Colocou um aperto em seu coração... |  O Despertar de um sentimentoTenho medo de acordar ao som de tuas palavras doces, e me seduzir com o leve toque dos teus dedos, para que no pecado não haja mais tempo de me redimir. Eu te suplico, não deixe que te toque o teu corpo, pois o meu pode haver espinhos que possa ferir tua alma... |  A Alma e força da mulherPerder-me na mais vislumbrante beleza
Que teu peito oferece, enriqueceria meu rubor,
Aquele na qual penetrar no intimo da alma de uma mulher
Poderá descobrir na impaciência do seu pulso firme,
E na impetuosidade descontraída do seu jeito de olhar
Estará escondido um tesouro de inigualável valor... |
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 Todas são IguaisAo som da valsa que termina, mais outra garrafa vazia sobre a mesa deste bar. Amanhece sexta feira, e ela sozinha, quem podia imaginar... |  O Homem e a MáquinaEm preto e branco se desdenha a ferrovia. Anos dourados de notáveis imigrantes, registraram sua passagem na história. Nos museus de hoje em memórias, o grito mudo preso na garganta; Espojado, aflito, expelidos... Pelo pulmão da maria fumaça... |  O Homem e a MáquinaAo abrir a porta mais uma estação; Manoel feio, Itaim, tanto faz... Desço em Calmon a trabalho semana que vem em Ferraz... |
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 Homem e a MáquinaNas plataformas de piso arrogante, bitucas mal apagadas queimam por dentro; Recolhidas uma a uma sem distinção. A solitária máquina descansa nos trilhos, e os amantes nos bancos das praças. Subordinados a cada segundo determinado pelo relógio da velha paróquia... |  O Homem e a MáquinaPara trem, para trem! Para na estação... Eu preciso descer pra urinar, comprar cigarro e salsicha no pão; É tão romântico viajar de trem... |  O Homem e a MáquinaFio metal em meio à caricatura da nota, ignoram o romantismo que é andar de trem. A cada vai e vem de um humilde vagão; Um desculpa daqui, um não foi nada de lá, e o Brasil jogou mal? Acabo de fazer vinte e um... Empresta-me um isqueiro para mais um cigarro. E a beleza da paisagem que ficou para trás; Tem nada não ela volta à semana que vem... |
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